quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Duas versões de uma mesma história!


                    Como falado em posts anteriores, referente às obras de Monteiro Lobato que foram muitas, teve livros que Lobato escreveu em duas versões como é o caso do livro que iremos analisar hoje e apontar as diferenças de uma versão para a outra que é "A Menina do Narizinho Arrebitado" e "Reinações de Narizinho".

                    Tudo teve inicio em 1920, quando Monteiro Lobato, publicou seu primeiro conto infantil "A História do Peixinho Que Morreu Afogado" e, posteriormente Lobato ampliou o conto e nele introduziu cenas de sua infância. Com isso, exatamente em 1921, ele publicou o livro "A Menina do Narizinho Arrebitado", tendo como personagens principais, a menina Lúcia, apelidada de Narizinho por conta de seu narizinho arrebitado e sua boneca de pano, Emília, mas não é só isso. Lobato criou uma avó para a menina, dona Benta e também a boa cozinheira Tia Nastácia (no primeiro livro ele a chama de Tia Anastácia) e elas moram em um sítio, o Sítio do Picapau Amarelo, um lugar distante do barulho e da agitação da cidade grande, como descrito também em "Reinações de Narizinho", porém, em "A Menina do Narizinho Arrebitado", Lobato descreve suas linhas iniciais da seguinte maneira:

"Naquella casinha branca, - lá muito longe, móra uma triste velha, de mais de setenta annos. Coitada! Bem no fim da vida que está, e trêmula, e catacega, sem um só dente na bocca - jururú... Todo mundo tem dó d'ella: - Que tristeza viver sozinha no meio do matto..."

        Como podem perceber, Lobato não cita o "Sítio do Picapau Amarelo", Lobato só fala da casinha branca, lá muito longe e, nem cita o nome Dona Benta, ele a chama apenas como velha, mostrando assim a primeira diferença da primeira versão, com "Reinações de Narizinho" relançado dez anos após está versão, em 1931, onde Lobato descreve nas linhas iniciais o seguinte:

"Numa casinha branca, lá no Sítio do Picapau Amarelo, mora uma velha de mais de sessenta anos. Chama-se Dona Benta. Quem passa pela estrada e a vê na varanda, de cestinha de costura ao colo e óculos de ouro na ponta do nariz, segue seu caminho pensando: - Que tristeza viver assim tão sozinha neste deserto..."

        Vemos que em "Reinações de Narizinho", Lobato já cita o nome do lugar onde Narizinho vive com sua avó que também tem um nome Dona Benta e a idade e as características da boa senhora, Lobato modificou. Enquanto em "A Menina do Narizinho Arrebitado" ela tem mais de setenta anos e está bem no fim da vida, tremula, catacega, sem um só dente na boca, bem jururu, em "Reinações de Narizinho", Lobato só cita que Dona Benta tem mais de sessenta anos. Outra modificação que também teve nas primeiras linhas de ambos os livros, são as seguintes:

        Em "A Menina do Narizinho Arrebitado" ao falar na protagonista da história, ele cita o seguinte:

"A velha vive feliz e bem contente da vida, graças a uma netinha órfã de pae e mãe, que lá mora des'que nasceu. Menina morena, de olhos pretos como duas jaboticabas - e reinadeira até alli!... Chama-se Lúcia, mas ninguém a trata assim. Tem apellido. Yayá? Nenê? Maricota? Nada disso. Seu apellido é "Narizinho Rebitado",  -  não é preciso dizer porque."

        Já em "Reinações de Narizinho" a personagem título é descrita da seguinte maneira: 

"Dona Benta é a mais feliz das vovós, porque vive em companhia da mais encantadora das netas - Lúcia, a menina do narizinho arrebitado, ou Narizinho como todos dizem. Narizinho tem sete anos, é morena como jambo, gosta muito de pipoca e já sabe fazer uns bolinhos de polvilho bem gostosos."

        Além dessas diferenças, existem outras que se fossemos pontuar uma por uma, teríamos que dividir esse post em dois, mas comparando a descrição de Narizinho em ambos os livros, podemos perceber através dos trechos que as diferenças são bem significativas, dentre elas, Lobato não cita a idade de Narizinho em "A Menina do Narizinho Arrebitado", podendo ela ser uma menininha de sete ou menina beirando a adolescência, visto que em "A Menina do Narizinho Arrebitado", a menina se apaixona perdidamente pelo Príncipe Escamado, coisa que em "Reinações de Narizinho" a menina não demonstra essa paixão pelo peixinho príncipe-rei do Reino das Águas Claras.

        Na primeira versão por exemplo, Lobato concentrou toda a história na ida de Narizinho ao Reino das Águas Claras e o Pedrinho, primo de Narizinho, não chegava ao Sítio para passar as férias, na primeira versão o menino sequer é citado. Emília ganha vida ao ir ao Reino das Águas Claras, mas não engole a pílula falante como em "Reinações de Narizinho" e o Pequeno Polegar não aparece fantasiado de bobo da corte para fugir dos livros de Dona Carochinha que também não é citada nessa primeira versão. 

        Enquanto em "A Menina do Narizinho Arrebitado" a história se concentra só na ida de Narizinho ao Reino das Águas Claras e a narrativa era bem mais formal, em "Reinações de Narizinho", Lobato deixou a história com um tom mais lúdico e fantástico, além de ter toda a passagem de Narizinho ao Reino das Águas Claras, Lobato inseriu outras histórias ou fábulas reunidas num só livro, as quais nós já conhecemos e que gerou as famosas adaptações para a TV e para o teatro.  

 
 

 




Um comentário:

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